segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Ice cream

A vitrine da sorveteria era colorida a ponto de desorientar qualquer criança, atraindo-a àquele paraíso interminável de sabores e texturas simultaneamente. Ela, já com suas duas décadas de vida (portanto com inúmeras idas à confeitarias igualmente extravagantes no curriculum), não se deixou abalar com a quantidade de opções. Entrou com um objetivo nítido: adquirir um (1) copinho de sorvete Menta-Chips. É seu sabor preferido desde quando descobriu que essa sobremesa não se limita a Morango, Creme ou Chocolate. Menta-Chips já a consolou após rompimentos amorosos, já a acompanhou em viagens estrangeiras, já parou na testa de sua irmã caçula no fim de um argumento caloroso com a mesma, já serviu de jantar, almoço, café da manhã, lanche da tarde. É doce e refrescante na medida certa. Era a única coisa à qual aspirava naquele momento.

O atendente sorriu por trás do balcão. "Já fez sua escolha?" perguntou. Ela abriu a boca para responder... mas um vibrante tom de amarelo desviou sua atenção. Mousse de Maracujá. Onde já se viu SORVETE de MOUSSE? Duas sobremesas em uma? Era um conceito estranho, mas curioso e cativante ao mesmo tempo. Ela se lembrou da última vez que provou um mousse de maracujá e o céu de sua boca instantaneamente umideceu. O amarelo do potinho parecia reluzir cada vez mais, como se estivesse abanando para ela. "Prove-me!"

Olhando fixamente (e unicamente) para este pote em particular, ela pensou em como tinha mudado nos últimos meses. Pensou nos riscos que havia tomado, pensou nas consequências de suas atitudes, pensou em uma conversa que teve anteriormente sobre a importância de novidades na vida para evitar a acomodação da rotina. Pensou que a garota cautelosa e supostamente sensata de antigamente fora substituida por alguém mais aventureiro desde o começo do verão. E considerou com extrema seriedade a escolha de um novo sabor nessa tarde, como forma de brindar a chegada da falta de juízo que estava a fazendo tão bem ultimamente.

"Então, moça, já fez sua escolha?" disse o mesmo atendente com o mesmo sorriso.
"Sim," ela respondeu com convicção. "Menta-Chips."
"Certo."

Ela sorriu. Viva a aventura na vida. Mas na hora do sorvete, old habits die hard.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Requiem for a jerk

E eu que te odeio, merrmão? Hein? Tá se achando o gostosão agora, recebendo declarações de amor por todos os cantos, pensa que pode inocentemente dar uma espiadinha na minha vida para ver o que ando fazendo? Pois, pff, não pode. Eu não permito. Tente ligar; não vou atender. Tente puxar assunto através de terceiros para ver a cara de cu que receberá de mim. Não posso controlar a vida de nossos amigos em comum, não posso pedir a eles para enxergarem o menininho bobo e mimado que vejo quando eu olho para você. Mesmo porque isso seria de uma tremenda falta de classe e se tem uma coisa que herdei de mamãe foi justamente isso: classe. Portanto acho melhor você poupar seus esforços de re-comunicação e simplesmente sumir do mapa por enquanto. Ou por sempre, por que não? Quem sabe eu o veja em algum evento social... quem sabe eu coloque minha melhor roupa e aplique minha maquiagem cara e lhe darei aquele sorrisinho simpático que reservo para tias do interior e quem sabe aí você se mancará que perdeu preibói.

Eu gostaria de já estar indiferente a você. Totalmente indiferente. Queria muito não sentir pancadas violentas no estômago quando recebo notícias suas. Mas o tempo cura essas frecuras. Esteja certo disso.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Spitting venom

Sutileza é uma arte. Discrição. Omitir a coisa certa na hora certa. Falar em baixo tom de voz para evitar que ouvidos desocupados captam parte (se não toda) da sua conversa. Todos nós temos segredos, presumo eu. Todo mundo tem aquele pensamento obscuro, aquela opinião desagradável sobre algo ou alguém e não quer necessariamente compartilhar tal informação com muitos outros. E a maioria das pessoas, presumo eu novamente, consegue ser sutil e discreto na hora de abrir a boca para certos assuntos. Menos eu. E menos eu de novo (visto que consegui a proeza de falar a coisa errada na hora errada e ainda num volume vocal adequado para chamar a atenção do baterista de uma banda de metal no meio de um show).

É, pois é. Meu nome é Camila, tenho vinte anos e pagar mico é minha especialidade. Muito prazer.



segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

How my heart behaves

Minha prima ficou noiva. A outra é praticamente a gerente da firma de sei-la-o-quê da minha tia avó. A terceira fugiu pra Australia. E nenhuma tem mais que 25 anos.

E tu, tatu, o que tem feito?
Nada. É o que parece, pelo menos. Tenho visto filmes repetidos. Tenho lido Sartre. Tenho transferido músicas via msn. Tenho trabalhado meio período. Tenho dançado no quarto. Tenho sofrido de cólicas. Tenho sonhado em fugir daqui, em largar tudo pra tocar piano em Nova York, em tatuar Carnival do Miró no meu braço, em ganhar na mega-sena, em conhecer o Bowie.

Nessas horas eu sinto que sou a garota-de-vinte-anos mais jovem e imatura de todos os tempos. Sei que não é verdade, mas enfim, vá discutir com sentimentos. E o pior (ou o melhor, vai saber...) é que dessa vez isso não me incomodou. O que há de errado em aspirar a uma vida não-tão convencional? Não digo que quero arrumar as malas e sair por aí sem um tostão para conhecer lugares exóticos, ná. Mas hoje acordei com vontade de dar um chute nas exigências do mundo real para "garotas-brasileiras-filhinhas-de-papai-de-classe-média", as quais definem carreira/casamento/aventura-planejada como pré-requisitos. Eu quero viajar para o exterior sem a obrigação de morar fora, quero ir ao MAM três vezes por ano, quero trabalhar com o que gosto sem preocupar com dinheiro (visto que não defini ainda o que gosto, essa parte é mais dificil), quero ser minha própria chefe, quero ler na praia em dias nublados, quero ser livre.

- O que você pretende fazer então depois de se formar?
[perguntou minha vó ontem depois do almoço, ao ver que as notícias sobre minhas primas provocou uma discreta cara-de-nojinho em mim]
- Ih, mãe, essa daí quer ser artísta.
[respondeu meu pai, em contraste a minha irmã que pretende dominar o mundo como dona de uma multi-tripli-nacional]
- O que essa garota tem na cabeça?
[presumo que foi a pergunta que minha vó fez quando eu não estava mais presente]
- Algodão doce.
[seria a resposta mais adequada]

sábado, 19 de janeiro de 2008

Don't believe anything I say

Eu não sou uma pessoa muito sincera. Não sou exatamente mentirosa também. Mas não sou direta. Não consigo impor limites. Não sei negar alguma coisa sem antes explicar meticulosamente o porquê dessa minha decisão. E mesmo com as pessoas que eu sinto que tenho liberdade para ser rude, para afirmar com veemência, "escuta, valeu pelo convite mas não tô afim, tô passando mal, fica proutro dia, ok?", fico com aquele nó no estômago típico de pessoas inseguras e indecisas que se importam demais da conta com os sentimentos dos outros a ponto de se perder numa batalha interna de exigências alheias e vontade própria.

Eu gosto de pensar que tenho controle das situações. Gosto de pensar que aquela garota frouxa, Maria-vai-com-as-outras se foi há muito tempo e se esqueceu de deixar um endereço para correspondências, ó, que pena. Mas tem horas que me vejo presa em uma correnteza sem fim e me parece tão trabalhoso remar contra; é tão mais cômodo fechar os olhos e esperar que o destino final seja um de agrado.

E essa do total descontrole não pode ser lá tão saudável. Tudo bem que se é para escolher entre controle em excesso ou a falta dele, fico com a segunda opção. Mas nem por isso gosto dela. Creio, no entanto, que para agarrar às rédeas da vida tem que haver o mínimo de noção para onde quer ir, e o que se pretende fazer na chegada. O que eu não tenho. Portanto sou péssima para tomar decisões.

Conclusão: estou confusa, indecisa, sem conseguir distinguir o que é vontade, sonho e realidade, com vozes internas contraditórias berrando por minha atenção a cada instante. Hm, novidade.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

The scientist

"Em trabalhos práticos de física, qualquer aluno pode fazer experimentos para verificar a exatidão de uma hipótese cientifica. Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento."
- Kundera

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

I'm not sorry

Tem dias que eu sinto que faço tudo errado. Eu não anoto recados apropriadamente. Eu telefono para pessoas erradas. Eu me apego a causas insignificantes. Eu me importo com opiniões de pessoas que nem gosto tanto. Eu critico minhas conquistas e ignoro minhas falhas. Eu não aprendi a me declarar (isso já foi discutido aqui). Eu não aprendi a correr atrás das coisas que quero. Eu tenho vergonha de não ter nascido sabendo tudo. Eu perco meu tempo vendo programas de tv relativamente idiotas. Eu repito a mesma música inúmeras vezes e me esqueço das demais faixas do cd. Eu odeio pedestres quando estou dirigindo e odeio motoristas quando estou caminhando. Eu seguro a língua mesmo quando a outra pessoa merece uma bofetada verbal. Eu sou franca demais nas horas impróprias e as vezes isso magoa. Eu leio com a luz baixa e forço a vista.

Só falta eu correr com tesouras na mão e aceitar balas de estranhos. Mas quer saber? Estou tão ocupada me divertindo que não tenho tempo para me preocupar com isso tudo.

Love me, hate me, quite frankly I don't care.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Scream if you wanna go faster

euforia
do Gr. euphoría < eu, bem + phorós, portador
s. f.,
estado de espírito de satisfação e alegria fora do normal;
alegria intensa e expansiva;
bem-estar, tranquilidade, calma, produzidos por boa saúde ou por stupefacientes;
exaltação;
entusiasmo.

É extremamente prazeroso encontrar uma paixão. Melhor: é extremamente prazeroso encontrar uma atividade pela qual você se apaixona. Um hobby, por assim dizer. As vezes ele está bem na sua frente e você nem percebe. Um saquinho de sementes de [insira-flor-predileta-aqui], um piano com as teclas empoeiradas, a chave do carro, um cd de música pop. E tudo que você precisa é de um empurrãozinho para começar o seu jardim. Ou andar na 4a Avenida em alta velocidade cantando Bowie até a garganta secar e brincando de alcançar-semafáros-verdes simultaneamente. Ou dançar a Geri Haliwell de pijama no quarto (com as cortinas fechadas para evitar os olhares constrangedores dos vizinhos, é claro) e depois tentar tirar a melodia da música no teclado Casio, mesmo com os resíduos do pó incomodando seu nariz.

E daí vem a euforia. Com uma naturalidade surpreendente.




Nota paralela: "Alcançar-semáforos-verde" não é sinônimo de "Ultrapassar-semáforos-vermelhos", yes, meu povo? Nada de fazer merda na direção, ok?
Happy driving.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Young folks

Diálogo aleatório de madrugada com parentes
[true story]

- Pois é, mudou a programação de certos canais e agora estou perdidinha da Silva...
- Quais canais?
- Ah, FX, por exemplo. Não sei que horas passa mais nada-
- Me surpreende você ter tempo de ver TV.
- Como assim "te surpreende"? Eu não faço mais nada!
- Cê não tá trabalhando?
- Tô. Mas é meio período. E à tarde. Pouco me importa o que faço à tarde. Se eu não estivesse trabalhando estaria dentro da minha cabeça nessas horas. Tarde é um período do dia meio morto para mim...
- Ah, você é a sobrinha mais peculiar que te-
- Merda! Acabou o café!
- Como?
- Blerg... você não odeia quando a garrafa térmica dá a falsa sensação de estar cheia?
- O que você está fazendo tomando café a esta hora?
- O que você esta fazendo ligando a esta hora?
- Tá, ok. Venceu.
- Minha mãe já tá dormindo. Quer deixar recado?
- Não, não precisa, eu ligo amanhã.
- Ok. Já decidiu se vem pra cá no carnaval?
- Tô vendo aqui.
- Certo. Beijim.
- Beijo.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Get a life

Balneário está fervendo de turistas e umidade. Sinto que minha casa é ainda mais quente que as ruas da cidade, mesmo com cinquenta ventiladores ligados. Através da porta do meu quarto ouço (vagamente) gritos típicos de uma fêmea bagunceira e outra maníaca por limpeza. Aumento o som para não ter que me preocupar com isso. É só o que faço ultimamente: aumentar o som. Queria honestamente ter forças para fazer algo além disso, mas o calor não permite. E tendo em vista que só voltarei ao trabalho na semana que vem, não há nada de todo condenável nessa minha preguiça para a vida. Cumpro minhas funções domésticas sem pestanejar, supro minhas necessidades sociais à noite, quando o sol já se escondeu e é portanto seguro sair com seus amigos sem o risco de um súbito derretimento no caminho. O único problema com esse Siga o Ventilador Lifestyle é que há sérias limitações de atividades. Querendo ou não você acaba sendo escravo das poucas opções que sua casa oferece. No meu caso, nada muito diferente de coffee and tv. And books. And music. And sleep. Hoje o tédio foi tanto que fiz faxina no meu quarto. Dobrei todas as roupas do armário, varri o chão, tirei pó, arrumei a cama (direito). Quem diria, foi lindo. E não digo isso em um tom sarcástico. Adoro a responsabilidade de fazer absolutamente nada. De olhar o monte (melhor: a montanha!) de roupas empilhadas no chão e pensar, "Hmm, acho que está na hora de ajeitar isto daqui..." sem compromisso algum. Por mim estas férias durariam para sempre. Deixe o sol lá fora derreter os turistas! Estou demasiadamente entretida por um episódio antigo de Girls of the Playboy Mansion para me importar.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

The new year

[por vocês eu perco até a reprise de Alta Fidelidade no Cinemax]








Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Então tá aí. No mínimo 5000 palavras descrevendo minha virada. Normalmente eu nao me importaria de digitar tudo, mas hoje (por incrível dos incríveis que pareça) tenho mais a fazer.

Feliz 2008, minha gente!