sexta-feira, 28 de março de 2008

The past and pending

Quando acontece algum momento bom na vida, guarde-o. Aprecie-o. Pegue-o com as mãos e o coloque na estante. Feche os olhos e o sinta com todos os outros sentidos. Porque passa, minha gente. Passa e não volta mais. A ressaca do momento pode até ser prazerosa, mas quando vai embora também o vazio deixado é quase intolerável. E aí ocorrem os vasculhos da mente pelo mínimo vestígio do passado.

Meu momento, digamos, "o" momento em si, durou pouquíssimo tempo. Estava eu em uma galeria em São Paulo, admirando distraidamente as fotografias. Parei diante daquela famosa do James Dean na chuva em Times Square, do Dennis Stock. Já conhecia a peça e havia a visto incontáveis vezes, mas nunca prestei tanta atenção. Por alguns minutos tudo parou, a vida parou, os carros lá fora pararam, os sons diminuiram, o mundo freou antes de completar mais uma volta. E eu senti o cheiro da chuva, o cabelo molhado de Dean, o abraço de um sobretudo... e me veio On The Road na cabeça que é Kerouac que me lembra Bob Dylan que compôs Tangled in Blue que por algum motivo me remete ao Fante. E Fante é Camila, não tem outra, seja Camila Lopes ou Camila Beaumord.

Pois bem. Meu momento foi o minuto na frente de uma fotografia antiga que trouxe uma teia de pensamentos aleatórios resposáveis por um mormaço no estômago semelhante àquele provocado por chocolate quente no inverno. Porém, como tudo na vida, passou. O mundo voltou a pisar no acelerador, os carros seguiram em seus caminhos, os sons voltaram a fazer parte da noite. E eu passei para a próxima foto antes de deixar a galeria. Aos pouquinhos desde então, o mormaço vem deixando meu corpo.

É crime querer que ele volte?

[post elaborado semana passada mas não publicado por motivos pessoais e nem-tão-interessantes-assim da autora]

quinta-feira, 27 de março de 2008

Eu amo o dia 27 de cada mês. Quem me conhece sabe disso. Não sei como, mas tudo simplesmente flui. As amolações da vida dão um tempo e o mundo fica mais colorido, mais feliz.
Então é isso - desabafo contente.
Feliz dia 27 a todos :)

terça-feira, 25 de março de 2008

Don't ever think too much

Sempre aconselho os outros a não sofrerem por antecipação pois é algo que EU faço e que me incomoda profundamente. Sofrer por antecipação é sinônimo de preocupação desnecessária, sonhos perturbadores, coceira no cotovelo, falta de concentração em coisas essenciais. Tudo em vão. Em vão porque não se pode controlar o que há por vir. Em vão porque na grande maioria das vezes o motivo primordial da preocupação é algo que nem acontece. E porque, na grande maioria das vezes também, o desenrolar da história chega a ser tão inesperado que toda a energia gasta para o preparo psicológico do futuro-como-se-teme-que-será não se sustenta para o que realmente ocorre. É o medo do monstro no armário quando o monstro embaixo da cama é bem maior e está pronto para atacar.

Supostamente o jeito de impedir isso tudo é parar de pensar tanto.
Pois é. Tô tentando.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Expectations

Faz mais de uma semana que não posto aqui, e devo dizer já de antemão que não tenho uma desculpa concreta para justificar minha ausência, a não ser a tentativa frustrada de ausentar-me de mim neste meio tempo. Troquei estupidamente meus Luckys na sacada por Luckys à beira mar, visto que minhas reflexões solitárias no seleto espaço que divide meu quarto e o mundo exterior são muito mais profundas que ponderações espontâneas em lugares públicos com outros perdidos como eu. Passei a semana, a quem possa interessar, oscilando entre uma doença e outra, passando por gripe, febre, inflamação na garganta, ferida no pé até chegar na ressaca e todos os seus sintômas. Concluí apenas um dos muitos trabalhos acadêmicos que tenho para elaborar até o final do mês, tentei ler Clarice Lispector só para desistir antes da metade e voltar ao meu adorado Sartre (peço perdão as fãs, mas aquela mulher cansa minha beleza, e se isso me faz menos intelectual ou sensível ou, por que não, culta, foda-se), ri até apertar o estômago, trabalhei, vi filmes, revi amigos, consumi a quantidade certa de chocolate em horários adequados (porque sou uma menina esperta e sei me controlar). Tive frustrações ao longo da semana, tudo culpa de minhas malditas expectativas. Já me falaram antes que espero demais da vida, mas nunca acreditei até pouco tempo. Sou exigente sim, é fato. Espero uma aula decente na faculdade já que acordei cedo para assisti-la, espero a disponibilidade de certos materiais que reservei previamente, espero consideração alheia visto que a tenho com tantos outros. Então me frustro, frustro pois o mundo real nem sempre fornece aquilo que deveria. Sorte a minha que nunca me ocorre algo tão decepcionate que meus príncipes não dêem conta de ajudar.

E assim a vida passa. Chega a noite e percebo que I'm on top of the world again. O que mais posso pedir?

domingo, 16 de março de 2008

Relief

Tudo estava indo muito bem. Dormi até mais tarde, almocei, vi TV. Tomei a dosagem certa de café. Entrei rapidamente na internet. Estava tudo tranquilo. Até eu resolver tomar banho. Chego no banheiro, toalhinha na mão, e me deparo com a maior bagunça dos últimos tempos. Vidro embaçado, secador fora do lugar, roupas (ah! quantas roupas!) espalhadas por todos os cantos do minúsculo cômodo... são meias, calça, tênis, camiseta, tudo nojento e cobrindo o chão. A transformação relâmpago de "ambiente esterelizado propício para banhar" e "zona de guerra" só pode ser explicado pelo fenômeno Irmã-Caçula-Tornado, que havia usado o local apenas algumas horas antes.

Tarde demais para desistir, pratico saltos olimpicos até chegar ao box, na esperança de um banho agradável. Não funcionou. Não existe "meio-incômodo". Uma vez incomodado, não há como voltar ao normal em questão de minutos. Lá estou eu, rodeada por fumacinhas de vapor e tudo, TUDO, começa a me irritar. Não aguento as manchas na minha perna, não aguento o machucado no meu pé causado por uma sandália assassina sem consideração, não suporto minhas unhas roídas, meus olhos míopes, minha boca, meu enorme nariz (que nem é tão grande assim), meu cabelo que só pensa em cair, cair, cair. Meus ataques de tosse, meus enjôos constantes, minhas olheiras... tudo, tudo está errado. Sinto uma coceira estranha que começa no meu cotovelo esquerdo e segundos depois já se espalhou para meu braço inteiro. Então pego o sabonete e esfrego meu braço, esfrego para ver se "limpo" a sensação, esfrego até o pobre coitado quase cair. Mas também não adianta, então jogo no chão o sabonete com sua fragrância nauseante de uma flor ordinária qualquer e abro toda a torneira de água fria para ver se alivio o sentimento de (literalmente) querer trocar de pele. Funciona um pouco. Consigo pelo menos terminar o banho. Agarro minha toalha, saio do banheiro, deito na minha cama por o que parece ser uma eternidade até acalmar um pouco os nervos. Levanto, sento na frente do computador e começo a escrever.

sexta-feira, 14 de março de 2008

100,000 Fireflies

Ah, as tais borboletas no estômago. Inexplicáveis. Eu juro que queria atraí-las como resultado de algo "normal". Juro que queria controlar o horário, local e (principalmente) o porquê de suas aparições. Queria declarar uma paixão abertamente sem me preocupar com as expressões de espanto que causaria nos demais. Porque é o que sempre acontece, não tem jeito... tento esconder certas opiniões consideradas estranhas, mas acabo as revelando de uma forma ou de outra e provocando olhos arregalados e sobrancelhas erguidas. O problema é comigo, eu sei, mas não adianta. Até tentei ser diferente e quase morri com o esforço. Não adianta, não adianta. Sou esquisita. E se querer abandonar a Cidade Paraíso-Subtropical para fugir para a Terra da Fumaça e Poluição me torna ingrata além de esquisita, tudo bem. Pois posso jurar que quero borboletas de outra maneira, mas o fato é que o que importa são suas visitas. As minhas podem não aparecer com tanta frequência, mas quando decidem vir, trazem a família inteira para passear por todos meus órgãos vitais alegremente até suas asinhas não aguentarem mais bater de tanto cansaço.



*O título tá Fireflies e não Butterflies porque bichinhos de luz também provocam frio na barriga e Magnetic Fields é uma graça.

quinta-feira, 13 de março de 2008

On the road again

Há exatamente uma semana a adorável futura-publicitária que se encontra agora sentada na frente do pc digitando este texto estava tentando decifrar como encaixar um par de tênis Reebok com estampa de jornal em sua mochila vermelha já entupida de roupas e livros e acessórios femininos. Tonta do jeito que é quando o assunto é física, decidiu que a melhor estratégia seria sentar na mochila, amassando assim os objetos pra-lá-de-necessários (sentiu o sarcasmo?) como as 10 blusas e 3 calças e 12 pares de meia que ela jurava que usaria em sua viagem de 6 dias, tendo então espaço para seus calçados no topo da mochila. Não funcionou (obviamente). Demorou uns bons 10 minutos para ela decidir separar o par, enfiando o pé esquerdo no cantinho esquerdo na mochila e o pé direito no cantinho direito. Ó, não é que deu certo?

Com isso resolvido, nada mais poderia impedir a garota de partir para o Rio de Janeiro na tarde seguinte. Sua bagagem a acompanhou até a rodoviária local, até a rodoviária carioca, até a casa de seu amigo, até o show do Bob Dylan, até a Drinkeria Maldita, até a rodoviária carioca de novo, até a rodoviária paulistana, até a casa de mais amigos, até o show do Interpol (com abertura do Cachorro Grande), até o MASP, até a C3, até a Fnac e o show "surpresa" do Nenhum de Nós, até a rodoviária paulistana novamente, até Balneário Camboriú. Ela esperou pacientemente na casa dos amigos de sua dona já mencionados enquanto a garota passeava nos restaurantes do Rio e na Av. Paulista e na Livraria Cultura e na Starbucks e na frente do suposto hotel onde os integrantes do Interpol estariam hospedados e nas inúmeras viagens de metrô. Neste momento, a linda mochila vermelha se encontra deitadinha na cama da garota, exausta, tadinha (e com razão).