sexta-feira, 2 de novembro de 2007

This is yesterday


"Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a este artifício conseguimos suportar o passado."
Gabriel Garcia Marquez em Amor nos tempos do cólera.

Dias de chuva me deixam pensativa. Acho que o mesmo acontece com a maioria das pessoas. Tirando o Gene Kelly, claro. Enfim, andei desenterrando antigas cartas e anotações e relembrando momentos de alguns anos atrás. Tudo parecia ser tão bom, tão divertido. Lembro-me de quando comecei a trabalhar, a ganhar meu próprio dinheiro, o qual eu torrava tudo em shows e viagens e CDs virgem. Lembro-me que adorava o cheiro de ônibus de viagem, adorava puxar a cortininha e ficar admirando a paisagem. Adorava fazer cursinho, adorava a esperança de me mudar de Balneário o mais cedo possível. Adorava matar aula de redação para tomar cerveja em um bar próximo. Adorava ficar conversando na beira da praia, à noite. Adorava tudo, adorava todos, aparentemente.

Esses dias encontrei com algumas pessoas dessa época no Atlântico. A total falta de assunto me surpreendeu. Perguntas como, "Está gostando da faculdade?" e "Como vai sua mãe?" eram o tema central da conversa. Com o coração apertado e um sorriso amarelo no rosto me despedi, prometendo (em vão) manter contato. Ao sair do shopping me peguei pensando se a tal "época dourada" de minha vida foi realmente tão dourada assim.

E a resposta é, não! Claro que não foi. Sempre vem tristeza junto com alegria. É o balanço cármico do universo (assita ao Earl). Mas momentos ruins se dissolvem com mais rapidez que os bons, e que delícia isso. Conversas constrangedoras com fantasmas do passado servem apenas para reforçar que amigos de verdade são aqueles que você pode ficar anos sem ver mas sempre têm novidades para compartilhar. Exs de verdade são aqueles que você pode encontrar na rua e rir de antigas gafes, sem ressentimentos ou mágoas. Confidentes de verdade ouvem suas angústias mesmo estando longe, mesmo não sabendo nada sobre os envolvidos, mesmo tendo que apelar a piadas chulas para te fazer rir. E tempos bons só existem porque precisamos que eles existam, caso contrário a vida não faria muito sentido.

Não vou fechar este texto com "viva o presente" pois isso seria uma tremenda idiotisse digna de Augusto Cury. Direi algo totalmente contra qualquer indicação de livro da auto-ajuda: Ame o passado. Apegue-se a ele, ria dele, lembre-se dele com amigos (mesmo os que não estavam com você na época). Pois convenhamos, o melhor ano de nossas vidas é aquele que acabou de passar.

7 comentários:

Anônimo disse...

awww, que lindo. só pra registrar a frase célebre de hj: "as melhoresd coisas não dão o sentimento de terminadas pq ainda estão para se concluir."
A verdade é que não lembro direito da frase, mas acho q a idéia era essa.
kisses hun.

Anônimo disse...

Momento nostálgico nos blogs que entro. O que acontece com essas pessoas?!?
O que me lembra, vivi nos anos 80 e começo dos anos 90 os melhores momentos da minha vida! E isso se resume a "conhecer" seu próprio corpo.

Anônimo disse...

Adorei o post. Passado é comigo mesmo. Apesar de nossas desavenças, espero ser parte do seu presente e futuro. Continuarei com as piadas infames pra lhe fazer rir.

Anônimo disse...

Eu quero poder voltar a ser irresponsável, apenas gastar a grana do meu pai. Ficar tardes inteiras no Energia com a desculpa de que eu estava estudando. Eu não quero mais ter que limpar minha própria casa, trabalhar, fazer mil trabalhos para professores loucos da Faculdade. Eu quero voltar a ser criança novamente. Eu quero!

Anônimo disse...

que nostalgia! muito gostoso viajar na tua história, bem contada.
particularmente, prefiro o ano que vem. mas também passei a chuva envolto em lembranças.

Anônimo disse...

O passado é uma parte da gente que continua sempre vivo. É como se alguma coisa ruim pudesse acontecer a qualquer momento que nós vamos correndo para o passado e lembramos de coisas piores que aconteceram, maquiamos as melhores e fazemos a vida andar novamente.

O passado é uma parte da gente que nunca vai embora.

Beijo, melancolic girl:*

Anônimo disse...

Sofro do mesmo mal quando vou a Lages. Não tem mais aquela coisa divertida de encontrar a maioria das pessoas e conversar por horas.
São raros os amigos que eu tenho prazer de encontrar lá.


Beeeijo Cherrie.