terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sampa

Se tem uma coisa que eu odeio - ODEIO - é compartilhar cigarros. Tá, não é tanto assim. Se gosto de você, ok, beleza, fique a vontade. Se vou com sua cara, sirva-se, só não abuse muito. Agora, se eu o tolero (tolero!) socialmente e você vem com uma papo de, "puuutz, larguei meu maço em casa!", sério, é ódio na certa. Primeiramente porque homem nunca "esquece seu maço em casa". Mulher ainda tem essa de deixei na outra bolsa e tal. Homem não. Homem que é homem (já dizia Veríssimo) fuma Marlboro Red e acende o bichinho com fósforo. Homem que é homem nunca deixa o cigarro em casa. Homem que é homem não faz mala com um Lucky Strike silver para impressionar a gatinha, principalmente quando o dito cujo veio do maço da própria. Homem que é homem, ou é que mulher, ou tem o MÍNIMO de bom senso não interpreta o empréstimo mais que educado da tal gatinha como passe livre para pegar quantos cigarros quiser.
Infelizmente, a pessoa ao meu lado na mesa do singelo bar onde passei meu fim de tarde não era um homem que é homem, nem uma mulher, nem alguém com bom senso. Então imaginem meu humor ao me deparar com apenas dois (dois!) palitinhos cancerígenos para me fazer companhia enquanto esperava um ônibus para casa, na chuva, em plena Avenida Paulista, às oito da noite. A cidade inteira está parada, cinquenta cidadãos estão a minha volta tentando ocupar um espacinho embaixo do mini-telhado do ponto e eu lá, olhando para a caixinha, boquiaberta. No way. Indignada, acendo o ciggie-number-one e dou tragadas duplas (inalando duas vezes antes de soltar, pra ver se dura mais) até o bus chegar.
E ele chega, meia hora depois, lotado. Dou saltos olímpicos até subir, deixando várias velhinhas para trás (sorry, vovó, tô com um saco de jujubas na barriga desde as 10 da manhã, sem condições que ficarei em pé até a porra de Perdizes) e peço ao trocador para me fazer a gentileza de avisar quando estivermos na esquina com a Caraíbas. O que ele faz, muito a contragosto. Saio do bus, com a chuva mais forte do que nunca, e ando os dois quarteirões até o flat do meu tio, onde estou hospedada temporariamente.
Um sanduba de peito de peru é a única coisa que me espera na casa vazia. Janto na sacada, com uma toalha enrolada na cabeça, e acendo a sobremesa - ciggie-number-two - logo em seguida. Uso esse tempo para brincar de adivinhar como as pessoas dos demais prédios vivem, baseado no pouco que as cortinas deixam transparecer. Depois levanto para admirar o movimento da rua. Ali, parada, com o barulho da chuva e as luzes da cidade, tenho que admitir que mesmo nos meus piores dias, amo muito tudo isso.
Quero São Paulo para mim, para sempre.

7 comentários:

By Ana D disse...

Tem coisas que compartilho neste post..rs

Anônimo disse...

O bom senso falta a muita gente. Infelizmente, não só na mesa do bar...

Dr.do absurdo disse...

Também ODEIO compartilhar cigarro, prefiro dar de uma vez!!!

Taísa disse...

Amo São Paulo. Trocaria qualquer caríbe por um apartamentinho lá.

By Ana D disse...

Volta ??

Renan Accioly Wamser disse...

Mil anos sem vir aqui. São Paulo é sunshine.

Marcelo Labes disse...

Taí um espaço que merecia ser atualizado mais vezes por... semestre? rs.